A CONDIÇÃO DE SER PAI, HETEROSSEXUAL E HOMEM NO BRASIL CONTEMPORÂNEO. Quando a Presunção Cultural de Culpa Antecede o Devido Processo Legal !

A CONDIÇÃO DE SER PAI, HETEROSSEXUAL E HOMEM NO BRASIL CONTEMPORÂNEO. Quando a Presunção Cultural de Culpa Antecede o Devido Processo Legal !

Ele se chama João.

Cinquenta e poucos anos, pai de uma menina que ele ama com uma devoção que não sabe explicar.

É um trabalhador que acorda às 5h todos os dias, mesmo quando chove.

Nunca teve passagem pela polícia.

Nunca levantou a mão para ninguém.

Nunca imaginou que um dia seria tratado como um criminoso — antes mesmo de ser ouvido.

Mas numa manhã qualquer, tudo mudou.

A porta bateu.

A vizinha olhou estranho.

O telefone tocou.

A ex-companheira, com quem o relacionamento havia terminado há meses, registrou contra ele uma ocorrência de xingamentos e ameaça verbal.

Nenhuma testemunha.

Nenhum histórico.

Nenhuma agressão.

Só a palavra dela.

E isso bastou para que, naquele instante, a vida dele fosse colocada sob suspeita.

A partir dali, João virou um “acusado”.

Antes de qualquer investigação, antes de qualquer prova, antes mesmo de ter chance de explicar…

ele já carregava nos ombros uma etiqueta invisível:

“Homem = provável agressor.”

“Pai = potencial risco.”

A delegada não o olhou nos olhos.

O policial anotou seu nome com desconfiança automática.

A assistente social manteve distância, como se estivesse na frente de alguém perigoso.

João tentou falar; tentou explicar e tentou pedir para ser ouvido.

Mas a resposta foi uma frase fria, repetida mecanicamente:

“Aqui, a palavra da mulher é suficiente.”

Ele saiu da delegacia com os passos trêmulos.

Carregava um papel dobrado no bolso, e dentro da cabeça, um turbilhão:

“Mas eu não fiz nada.”

“Por que não querem me ouvir?”

“Por que parece que já estou condenado?”

Naquela noite, não dormiu.

Não sabia se podia ver a filha.

Não sabia se podia voltar para casa.

Não sabia como provar aquilo que ele sempre viveu: sua inocência.

Enquanto isso, do outro lado…

Maria — a verdadeira vítima que vive violência real — chegava à delegacia com o olho roxo, segurando os documentos com a mão tremendo.

Ela precisava de proteção.

Precisava de pressa.

Precisava que a lei funcionasse para salvar sua vida.

Mas o sistema estava sobrecarregado.

Delegacias cheias de casos frágeis, intermináveis, confusos — em que ninguém investigava, ninguém filtrava, ninguém verificava antes de disparar medidas.

E naquele mar de informações,

Maria — que precisava de ajuda urgente — esperava.

Esperava.

Esperava.

Esperava.

Dois extremos convivendo no mesmo sistema:

1.- o homem inocente tratado como culpado,

2.- a mulher realmente em risco esperando proteção.

Ambos sofrem e ambos perdem.

Porque quando tudo vira urgência…, mas nada é realmente urgente.

Quando o sistema não separa denúncia verdadeira de denúncia instrumentalizada… ele falha com quem mais precisa.

A dor maior não foi o processo. Foi a desumanização.

João dizia:

“Não quero privilégios. Só quero ser ouvido.”

Mas o sistema estava ensurdecido por uma narrativa perigosa que cresceu nos últimos anos:

a ideia de que questionar não é parte da justiça — é agressão.

E assim, o contraditório virou suspeita.

A defesa virou ameaça.

O silêncio virou culpa.

A palavra dele virou nada.

E o que isso ensina para nós?

Que homens inocentes não podem ser sacrificados para que a lei funcione.

Que mulheres reais em risco não podem ser desprotegidas por um sistema atolado em casos que nunca deveriam existir.

Que justiça não se faz com atalhos, nem com militância, nem com automatismos.

Se queremos proteger mulheres,

precisamos de seriedade, filtros, investigação e responsabilidade.

Se queremos proteger homens inocentes,

precisamos de equilíbrio, imparcialidade e respeito ao devido processo legal.

Um lado não existe sem o outro.

E ignorar um deles cria injustiça para todos.

No fim, João disse algo que resume tudo:

“Eu só queria que olhassem para mim como pessoa, não como categoria.”

E essa frase carrega o desafio do nosso tempo:

Proteger mulheres em risco.

Proteger homens injustamente acusados.

Proteger a justiça de se tornar instrumento de vingança.

Porque um país que presume culpa antes do processo

não protege ninguém —

nem elas,

nem eles.

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